Diário de Morte
Já percebeu como os contos de terror sempre tentam nos assustar e acabam falhando de forma miserável? A gente pensa “não é como se essas coisas realmente tivessem acontecido”. Mas e se um livro fosse capaz de contar o seu futuro de uma forma não muito amigável, você o consideraria um livro de terror ou apenas um livro estranho?
Pois isso aconteceu no México. No estado de Veracruz, em 1823, havia uma cidade que era conhecida principalmente pela maneira como as crianças da cidade brincavam. Eram todas bem unidas lá. Gostavam umas das outras, e era isso que importava em Biitos.
Por ser uma cidade pequena (com seus menos de 5000 habitantes) todos lá se conheciam. Foi por isso que ficaram assustados quando descobriram que o pequeno Tomás havia se matado. Ele era muito querido pelos amigos e pelos professores, assim como pelos “irmãos”. Digo “irmãos” pois Tomás morava em um orfanato na cidade, que atendia todas as crianças na região da capital (no caso, Xalapa). Eram cerca de quatro seus amigos e irmãos mais próximos: Francesco (que todos chamavam carinhosamente de Chiquito), Dir (menina recém chegada, mal falava com os demais), Pedro (era o garoto mais experiente do local) e também havia uma outra garota que ninguém lembrava o nome e ela não conseguia pronunciá-lo muito bem.
De qualquer modo, as crianças ficaram apavoradas quando descobriram do amigo.
- Ele estava bem ontem – disse Chiquito.
- Sim, mas ele estava meio estranho ultimamente – contestou Pedro, pensativo.
- Eu não percebi nada.
- Ele foi dormir tarde a semana inteira, vocês não perceberam? – perguntou Dir.
- Eu estava no castigo de novo, e o Chiquito dormindo parece uma pedra.
- Talvez fosse por causa de algo que ele encontrou – disse tímida a garotinha sem nome.
- Verdade, lembro de ver ele escondendo algo sexta.
- Vamos ver as coisas dele antes que mudem tudo de lugar.
Foram para a cama de Tomás. Ao lado, uma escrivaninha onde guardava seus poucos livros e cadernos. Pegaram tudo o que julgaram suspeito e se reuniriam novamente às 19h daquele mesmo dia.
- Mas e o jantar... – disse a garota sem nome.
- Não se preocupa, eles tão muito transtornados para qualquer coisa hoje. Desculpe, mas qual o seu nome mesmo?
- Bem... eu não sei direito. Muente eu acho.
- Okay, Muente, ainda não fomos muito bem apresentadas não é? Sou Dir, muito prazer.
- Obrigado! – disse a menina, abrindo um enorme sorriso no rosto. Sentiu-se acolhida.
Reuniram-se com Chiquito pouco mais tarde.
- E o Pedro?
- Na detenção ainda, ele não achou nada demais pelo que me contou, só um diário idiota.
- Bem, a Muente só encontrou uns livros sem sentido e eu encontrei duas cartas que ele recebeu do jornal a respeito daquela reclamação de perturbação pública.
- Todas lembramos daquele dia... – exclamou Muente.
Ele tinha saído correndo do orfanato gritando e pulando nas árvores da praça próxima, nada demais.
- De todo modo, vou dormir e amanhã a gente conversa com o Pedro. Boa noite, gente.
Eles nunca mais falariam com o Pedro.
Naquela noite, Pedro se atirou da janela do castigo, que era o andar mais alto do orfanato (3°, se não nos falha a memória).
O que ele tinha descoberto?
Ao bisbilhotar o quarto antes que a perícia chegasse, Francesco encontrou o diário.
- Chiquito, você tem certeza que isso é um diário? - Perguntou a garota sem nome.
- Sim, mas qual o seu nome mesmo?
- Bem... acho que é Mirte.
- Veja bem Mirte, aqui tem detalhes de tudo que aconteceu depois com o Tomás. Mas o estranho é que também tem o que aconteceu com o Pedro. Será que ele continuou escrevendo? O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
- Eu tô com medo.
- Não se preocupa, essa noite eu leio e amanhã a gente fala com a Dir junto.
- Tem certeza? Não parece seguro.
- Confia em mim, tudo vai dar certo.
Não deu.
Dir acordou no meio da noite com alguém gritando. Ao correr para ver o que era, viu a porta do dormitório masculino aberto. Correu para perguntar a alguém o que tinha acontecido. Curiosamente, ninguém se encontrava no dormitório. Mas ela viu algo interessante. O diário que até onde sabia estava com Pedro. Levou-o até a sua escrivaninha no dormitório feminino para ler com a luz da única vela que encontrara no casarão.
“Caro diário, não quero mais viver. Está tudo pior desde a advertência da prefeitura, não me amam mais por aqui. Vou ter que dar um jeito nisso”.
Isso estava escrito logo na primeira página, o que deixou a garota ainda mais curiosa.
“Sinto falta de meu amigo. As garotas não entendem o quanto éramos próximos. Não sei mais o que fazer. Penso em me atirar pela janela, mas não me parece uma solução. Quem tomaria conta delas? Chiquito?”.
As coisas pioraram.
“Encontrei o diário, mas parece que tem alguém querendo sumir comigo, acho que vou fugir por uns tempos”.
A última página. O diário era muito curto e tinha diversos desenhos pelo meio.
“Todos eles estão mortos. Sinto que meu próprio nome tenha algum significado diferente dos demais. Isso significa que eu sou a escolhida? Ou que devo apenas me sacrificar como os demais. Parece até que há algo me perseguindo. Parece que há algo atrás de mim exatamente agora. Não aguento mais. Farei o meu destino o mesmo que o de Pedro e de Tomás”.
Foi quando ouviu um vulto logo atrás. Virou-se rapidamente.
- Nossa querida, que susto. Eu juro que não pergunto mais isso, mas qual seu nome mesmo?
- Muerte.
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